domingo, 24 de janeiro de 2010

Um amor


Aproximei-me de ti;

e tu,

pegando-me na mão,

puxaste-me para os teus olhos

transparentes como o fundo do mar

para os afogados. Depois, na rua,

ainda apanhámos o crepúsculo.

As luzes acendiam-se nos autocarros;

um ar diferente inundava a cidade.

Sentei-me nos degraus do cais,

em silêncio.

Lembro-me do som dos teus passos,

uma respiração apressada,

ou um princípio de lágrimas,

e a tua figura luminosa

atravesasndo a praça

até desaparecer.

Ainda ali fiquei algum tempo,

isto é,

o tempo suficiente

para me aperceber

de que, sem estares ali,

continuavas a meu lado.

E ainda hoje me acompanha

essa doente sensação que

me deixaste como amada

recordação.


Nuno Júdice


simplesmente, o meu poema preferido.

1 comentário:

  1. Nuno Júdice é simplesmente brilhante .

    ( Vou dizer-te uma coisa simples : a tua ausência dói . )

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